quinta-feira, julho 31, 2008

Não entendo



"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender.Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma bênção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."

Clarice Lispector

segunda-feira, julho 28, 2008

dia de hoje

não entendo o que dá errado

nem entendo o que dá certo.

você dá voltas em mim como se eu mesma estivesse brincando com o tempo

mas com o tempo não se brinca

amo o que há de melhor em você

amo esse seu amor que me mostrou o que tenho de bom

amo esse seu amor que me fez me amar também

amo o momento em que tudo o mais se constroe porque sempre foi

estava escrito em algum lugar

e choro cada vez que por não entender isso tudo vira fantasia

e fantasia não é de verdade, mesmo que nela eu acredite

então prefiro seguir conselhos de um anjo

seguir amando o que tem de você em mim

não entender fica leve

não saber, distraído

a trilha existe

melhor seguir

ilha deserta - zé rodrix

A gente precisa de pouca coisa
Pra viver feliz e sossegado
Um barco à vela, um fogão de lenha
E uma cama limpa pra deitar quando se está cansado
Todo mundo nesse mundo
Preferia estar despreocupado
Falando pouco e pensando muito
Com uma pessoinha legal deitada do seu lado
Numa ilha deserta
Onde o vento só ventasse de vez em quando
Numa ilha, numa ilha deserta
Simplesmente vivendo, e sonhando
Mas se ilhas do mundo já tem dono
E você não entende bem porque
Separe tudo que lhe faz falta
E guarde bem guardado numa ilha dentro de você
(que la ninguem lhe segura)
(que la ninguem lhe põe a mão). ..

domingo, julho 27, 2008

roupa (vida) nova

vida que muda como quem muda de roupa.

escolhi.

dando conta de mim mesma.

o mínimo que podemos fazer é saber exatamente o que a gente quer.

o universo inteiro se encarrega de trazer tudo à nossa porta.

entendimento

paz

eternidade

calma

intensidade.

eusemvocênãotenhoporqueporquesemvocêsousódesamorumbarcosemmarumcamposemflôr...

sem você meu amor eu não sou ninguém.

disse isso um dia, voltei a me amar.

sei que dá certo?

"flôr de ir embora

é a flôr que se alimenta do que a gente chora

rompe a terra decidida flôr do meu desejo

de correr o mundo afora

flôr de sentimento

amadurecendo aos poucos a minha partida

quando a flôr abrir inteira, muda minha vida

esperei o tempo certo

e lá vou eu, e lá vou eu

flôr de ir embora eu vou

agora este mundo é meu".

mudar de roupa como quem muda de vida.

segunda-feira, julho 07, 2008

encantada

estou encantada com o tempo de agora mesmo.

céu, sol, nuvens...

tudo na medida do que tem de ser

do que tem de ser? na medida do presente.

da minha percepção descompromissada

desde que resolvi entender o que me pediam o mundo girou sua roda da fortuna.

não estou acima nem abaixo do que deveria. estou onde estou.

reconheço minha alegria e me encanto com tudo.

mas isso é simples. eu sou encantada.

me dizem assim: quando vc está relaxada vc fica séria, com cara de poucos amigos.

quando vc está apavorada ou tensa vc fica sorrindo, com o semblante mais leve que alguém pode ter.

herança de meu pai. chegasse a ele a maior tristeza, a maior loucura, o maior desespero e ele tinha uma incontrolável crise de riso. ninguém entendia nada.

morria alguém e ele dizia assim: já pensou? fulano de tal nunca tinha morrido, pois foi morrer justo hoje....

as heranças que a gente identifica muitas vezes nos ajudam a perceber o que os outros recebem e percebem a partir de nós.

não que eu tenha mudado o rumo da minha própria prosa e esteja com muita vontade de ligar pro que os outros pensam.

mas é compromisso: a verdade que há aqui pode chegar lá e vice-versa.

bem.... estamos aqui, juntos. e a vida se descortina.

domingo, julho 06, 2008

trilogia do templo

"O Eremita:
Embora me desse a certeza de que eu estava no caminho certo, ao mesmo tempo me impunha uma tristeza imensa. Eu ficaria cada dia mais só, se tudo corresse como devia: se não tivesse encontrado Felício, estaria perdido, desesperado, e sem ter com quem abrir o coração. Por mais que um homem esteja no caminho de conhecer-se a si mesmo, como preconizavam os gregos, é preciso que este auto-conhecimento seja dividido com alguém também disposta a abrir-se, para que, na troca mútua, ambos se enriqueçam. Não existe quem possa ajudar-se sozinho, e a figura d'O Eremita, com suas vestes longas e sua lanterna tentando inutilmente iluminar o crepúsculo de suas certezas, era por demais parecida comigo. Eu precisava partilhar de mim com quem me pudesse entender, e, por vezes o esforço de fingir era demasiado: eu me sentia empobrecido e degradado por ele, mesmo com a certeza de estar fazendo o que devia fazer."

fala de Esquin de Floryac

personagem do livro Trilogia do Templo - volume 3 - Esquin de Floryac - o fim do templo de Zé Rodrix. pag. 230

oportuno, muito oportuno

para além da curva da estrada talvez haja um poço
e talvez um castelo
e talvez apenas a continuação da curva da estrada
não sei nem pergunto
enquanto vou na estrada antes da curva
só olho para a estrada antes da curva
porque não posso ver senão a estrada antes da curva
de nada me serviria estar olhando para outro lado e para aquilo que não vejo
importemo-nos apenas com o lugar aonde estamos
há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer
se há alguém para além da curva da estrada
esses que se preocupem com o que há além da curva da estrada
essa é que é a estrada para eles
se nós tivermos que chegar lá
quando lá chegarmos saberemos
por ora só sabemos que lá não estamos
aqui só há a estrada antes da curva
e antes da curva há estrada sem curva nenhuma

alberto caeiro