domingo, junho 07, 2009

tarde de domingo

Época de hoje

ultima página - coluna da Ruth de Aquino sobre o acidente aéreo. Uma senhora de 48 anos que completou 25 de um casamento feliz no ano passado, perde o marido num infarto fulminante a 3 semanas. O filho de 23 que veio pro velório do pai, volta pra Paris no voo acidentado. a jornalista sem saber o que fazer recorre ao psicanalista Luiz Alberto Py para conseguir algum consolo. Ele diz o seguinte:

"O que a gente teve não perde. As lembranças estão dentro da nossa memória. Quando uma tragédia assim acontece, o que se perde é o prosseguimento, é o futuro. E o futuro é virtual, uma expectativa de algo que damos como certo, mas não é. Não se perde o passado. Isso pode parecer meramente racional e é, porque a emoção não se traduz. Não se perde alguém que existiu. O que se perde é uma expectativa. Isso não é consolo, mas pode ajudar a retormar a vida. Pensar não no que perdi, mas no que tive o privilégio de viver. O passado precisa ser uma referência para a gente se nutrir. E não para se lamentar. Há várias formas de conviver com a saudade."

Esse consolo tirou umas poeiras da minha cabeça e eu escrevi de imediato, sem saber onde iria parar:

E eu aqui pensando estar só neste processo de racionalizar o sentimento...

Nessa minha estranha pressa de não morrer em vida, fico pasma!

Vejo acontecer diante de mim uma batalha épica. Recheada de mitos. Só eu mesma pra ser capaz de vizualizar. Nada acontece por acaso na vida de ninguém. Muito menos os encontros.

Me retirei do campo de batalha antes mesmo de pensar sobre o assunto.

E fiquei junto de mim como a artilharia nos ouvidos de seu general.

--Senhor! Temos tudo para ganhar. Conhecemos o inimigo. O terreno. Podemos fazer o resgate em segurança. Nosso objetivo está em nossas mãos.

E o general respondeu:

--Não estamos mais em batalha.

Basta. Não há o que retrucar. apenas reconhecer e com o passar dos dias verificar o nível de confiança que temos no general.

Eu decidi a retirada antes de consultar as bases.

Descubro em mim uma infinitude de humildade, segurança, credibilidade.

Lutar contra tiranos é a batalha mais vil que o ser humano pode pensar em travar.

(É muito fácil passar a ser um deles)

Só o tempo.

Um povo se liberta de seu tirano com maturidade.

Eu me libertei com intuição.

Você se liberta por escolha. Tudo muito sábio, consciente e devagar. (demais pra minha paciência)

Mas eu aprendo. Já aprendi tanto!

Há sempre tanto a aprender.

O general em mim sabe que vai enfrentar o ódio da possível quebra de confiança, de quem devia ter, se sabia estar sendo libertado e não foi.

Para todos os fatos históricos há muitas leituras.

As manchetes nos dois países falam de baixas, perdas, mortes, aberturas de trincheiras e vitórias.

Mudamos de planeta quando perdemos alguém.

Mas eu sou aquele general aparentemente humilhado, feminino, por não seguir adiante.

Eu sei que morte, separação, crescimento, dimensões, são formas reducionistas de ver o todo.

Enquanto o tirano pensa que venceu eu rezo para que tudo aconteça da forma mais flúida e rápida.

As aparências enganam aos que odeiam e aos que amam.

Não somos os únicos a optar. Nada em nós depende ou pode esperar pela vontade alheia.

Eu já entendi que o amor, o carinho e a segurança podem prejudicar tanto quanto a ausência deles.

Todos passamos por situações de ajuste.

Estou em paz com minhas escolhas por causa da fé.

Eu jamais desisti antes. A única separação que importa é a morte. A última das ilusões.

A confiança é o elo que não se quebra.

É a semente que replanta tudo quando a vida segue seu curso, a poeira das vaidades baixa e os generais repousam suas cabeças sobre o peso das opções que levam à mortes, vidas, abandonos, seguranças.

A história da humanidade acontece no meu jardim.

Só me resta a memória de jardineiro.




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