sábado, maio 24, 2008

desabafo? será?

porque é tão difícil focar a vida num sentido só?

porque a vida tem tantos e os mais variados sentidos e focos?

com o poder de "poder tudo", não posso nada e ainda assim posso tudo!

ontem foi ótimo sair de casa em tão boa companhia.

Foi bom tomar algumas quando eu estava era mesmo com vontade de tomar todas.

Mas as verdades do mundo são tão difíceis de engolir...

E é tão mais difícil ainda explicar, justificar, comunicar que a gente gosta porque gosta e pronto.

É tão mais fácil entender que uma fase da minha vida acabou. acabou mesmo. morreu.

Tão fácil entender que amor a gente não ensina. Amor a gente não faz acontecer. Amor acontece e pronto.

Eu nunca te convenci a gostar de mim, me querer como quem não quer mais nada na vida.

Não quis isso e não quero isso.

Quero amor como o que eu tenho. Parecido, flúido, forte. cheio de mãos e pernas e bocas e linguas e cheiros.

Livre.

O quanto de livre se possa ser ainda neste plano.

Eu quero cantar pela vida à fora. Quero ser mesmo quase uma filha da puta. Quem vai pagar pelas minhas escolhas sou eu mesma.

Pra que tanta ética, tanto recato, tanto não pode, não deve, não faça.

Redimensionar isso sem palavras, somente atos.

Acordei com vontade de cozinhar meus desejos e servir no almoço.

Até hoje ainda penso que o desejo dos outros não interessa. mas minha atitude não se diz assim.
Só interessa o meu. Isso quer dizer que eu jamais serei servida como prato principal pro paladar de ninguém. Porque as relações no mundo hoje são assim. Praticidade, dinheiro em comum, compra de apartamento, de carro, de bens. Monopólio do olhar do outro, do sentir do outro, do pensar do outro.

"Como você não vê isso? Ele não vem. Você não vai. esqueça. acabou. pra ele acabou tem tempo. siga sua vida. trabalhe. supere. todo mundo teve um dia um amor que acabou."

É preciso viver nesse mundo e seu modelo de relações não me serve.

Nada foi feito sob medida pra mim. Mas antes tudo era feito sob medida pra mim.

À medida que emagreço, que eu me renovo as energias, que mergulho em mim e nas minhas crenças, na vontade e nos desejos, percebo que é nua que tenho de andar e que quero mais é ver muita saliva à mostra por onde eu fôr passando.

Nada de passar a mão. Minha vontade de ler Nelson Rodrigues deve estar geometricamente ligada à esta nudez que anda cruzando meu caminho. E se refazendo em mim. Porque a gente nasce nu.

O excedente não serve pra nada. não na vida, não da arte.

Nunca estou bem.

Estou sempre preparada pra receber estes "encostos". Estar bem é uma forma de cercar sorrisos, vontade, desejos e paz.

Mania que todo mundo tem, inclusive eu, de colocar fronteiras. até lá posso ir, a partir disso é risco.

Pois é o risco que quero. Me afogar depois de percorrer as pedras. Porque é ótimo sentir o vento no rosto.

Nunca estive preparada pra lhe levar a correr riscos comigo. E fui deixando de correr riscos pra não colocar sua vida em risco.

Não sou essa postura.

Não me acostumei com você depois da sua reforma. Homem feito. Seguro e incoerente como todos são. Príncipe em cavalo branco que quer mesmo é ser donzela resgatada. Ter um colo pra onde voltar.

Você também não se acostuma com o que vê. Mulher guerreira, sadia, bela e pulsante ao alcance da mão. Que não é somente colo. Quer subir no cavalo branco e sair por aí em busca de dragões, que existem. E quis isso com você.

Lutar contra moinhos de vento, lutar estas lutas internas intermináveis. Não quero. Você também devia não querer. Mas a luta é sua.

Pois muito bem. Sou responsável por mim.

A salvação é solitária. A alma é solidária. a compreensão é solitária. E tudo isso só chama atenção da multidão.

O artista é solitário, sua companhia é a multidão, quanto mais possível, muito melhor.

Dormir sozinha? Quem disse? A multidão está logo ali, ao alcance da mão. E muita gente neste caminho enlouqueceu, se matou, e todos até hoje ainda aplaudem.

O contrário disso tudo é ser eremita e estar em contato com a alma do mundo de uma forma mais plena?

Será mais plena?

Eu sou plena. Completa. Nada me falta e nenhuma prisão foi capaz de me segurar. Todas as grades dentro de mim são abertas, sou espaço arejado. Sou forte e múltipla e faminta de ser eu mesma com toda pressa que está nas minhas entranhas por DNA e hora de nascimento.

Sempre foi assim. Tem coisas que não mudam. Nem precisa.

Sei tudo que é necessário saber. Mais um pouco só amanhã. Mas sempre é hoje e amanhã. O passado trouxe todas as oportunidades e todas as posições e todas as alternativas. E as escolhas se resumem a mim. Aqui e agora.

Resumir é reducionista. as escolhas continuam acontecendo. Tudo está por acontecer. Eu não quero ficar pra ver. Fui eu quem criou tudo que agora é levado à mostra. Pros aplausos ou pras vais. Eu saí, fui passear comigo mesma bem ali... daqui a pouco alguém chega pra me contar como foi.

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